Qual o significado da dor?
Dor é uma ferramenta de proteção, ela indica tecidos lesionados ou em risco de lesão. A Associação Internacional para Estudos da Dor (IASP) define dor como “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a um dano real ou potencial dos tecidos, ou descrita em termos de tais lesões”. É o sintoma sentinela, que indica ao indivíduo que alguma medida deve ser tomada para evitar danos maiores.
Diferença entre dor crônica e dor aguda
A diferença primordial entre dor aguda e crônica é o tempo de evolução, ou seja, seu tempo de duração. Classicamente, dor aguda na coluna vertebral é aquela com duração de até 6 semanas. Em contrapartida, a dor crônica é definida como aquela que perdura por mais de 12 semanas. Nesse intervalo, temos uma subclassificação, a dor subaguda.
Diferenciá-las auxilia na elaboração de diagnósticos, prognósticos. Portanto, é fundamental para definir qual a conduta mais adequada para o momento.
O tratamento adequado das crises agudas minimiza a transformação destas em dores crônicas, de mais difícil controle. Por isso, investigação e tratamento precoces são importantes para restauração do equilíbrio físico, mental e espiritual.
Por que é difícil tratar dor crônica?
FALTA DE CONHECIMENTO: Para responder esta pergunta, assumiremos a mea-culpa, pouco se fala da dor como doença. Infelizmente tratam-na apenas como sintoma. Todo o estudo médico é focado na elaboração de um diagnóstico, deixando a dor em segundo plano. Conhecer a fisiologia dela melhora as habilidades do médico que a trata. Por parte do paciente, também há negligência. Dor crônica necessita de abordagem multidisciplinar, restando apenas uma parcela aos medicamentos. Quando há a crença errada de que o tratamento depende apenas do médico e da escolha do medicamento certo, o índice de sucesso é baixo. Parabéns! Se você está lendo essa frase, é um indício do seu interesse pelo seu problema e do desejo de ampliar seu conhecimento sobre o assunto. Seu índice de sucesso do tratamento é maior.
RECURSOS INADEQUADOS: Ao compreender sua fisiologia, é notório que a prescrição de um único medicamento não é tão eficaz quanto a abordagem multimodal. Esta se dá através de drogas com diferentes mecanismos de ação, atendimento por equipe de profissionais com conhecimento em dor crônica (médico, psicólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional) e elaboração de programas de educação e aconselhamento.
BAIXA ADERÊNCIA: Mesmo em casos com desfecho favorável, o período de tratamento é prolongado. Expectativas ilusórias causam frustração e abandono do tratamento.
O que é a fisiologia da dor?
Foi notado que soldados que sofriam de ferimentos de guerra graves sentiam pouca ou nenhuma dor. Esta dissociação entre ferimento e sintomatologia também foi observada noutras circunstâncias, como em eventos desportivos. Isso é atribuído ao efeito do contexto no qual ocorre a lesão. A existência de dissociação indica que o organismo possui um mecanismo que modula a perceção da dor.
Anos depois, foram descritos 3 sistemas de modulação da dor: Inibição Segmentar, o Sistema Opióide Endógeno e o Sistema Inibitório Descendente. Mais além, também foi descrito que a elaboração de estratégias cognitivas (onde o paciente adquire conhecimento sobre seu problema) podem modular a resposta à dor.
Assim, o mecanismo da dor é descrito na figura acima:
- Estímulo periférico nociceptivo
- Transmissão do estímulo à medula
- Transmissão do estímulo através da medula (trato espinotalâmico)
- Transmissão do tálamo ao córtex
- Inibição pelo Sistema Inibitório Descendente no tronco cerebral
- Inibição Segmentar na medula
- Inibição através da liberação de endorfinas
Condição psicológica influencia a dor?
A dor reproduzida no corpo deixa cicatrizes na mente. Sua própria definição já retrata isso: “uma experiência sensorial e emocional desagradável”. Processos psicológicos desempenham uma função importante no complexo processamento da informação dolorosa.
Doentes crônicos frequentemente sentem-se esperançosos com intervenções médicas, como as cirurgias, infiltrações ou medicações milagrosas, tendo expectativas irreais de um rápido alívio, sem que seja necessário o seu próprio envolvimento. Mas, também é comum, o sistema médico alimentar esperanças elevadas de cura, gerando ansiedade e frustração.
Isso é mais evidente quando o doente não conhece as causas ou não é capaz de construir um significado para a dor, de modo que provoca ainda mais ansiedade e aumento do sofrimento.
Modelos multimodais que consideram os componentes biológicos, psicológicos e sociais têm maior êxito. Ferramentas que incluam a pessoa ao processo, fazendo-as assumir responsabilidades em relação ao tratamento, são efetivas ao desenvolver a resiliência necessária para o controle adequado da dor. Por fim, estimular a participação ativa e a assunção de responsabilidade por si próprio, pela sua doença e pelo decurso desta também fortalecem a resiliência.
O que é Resiliência?
A resiliência é a capacidade de o indivíduo superar obstáculos, resistir à pressão de situações adversas e lidar com problemas e não sucumbir. Ou seja, é a promoção de condições para enfrentar e superar adversidades. A resiliência de um indivíduo dependerá da interação de sistemas adaptativos complexos, motivo da necessidade de tratamento multidisciplinar.
Dominar a mente humana é uma arte. Nesse sentido, ela deve ser desenvolvida sob orientação de um profissional capacitado. Com treinamento, o indivíduo que apresenta dor crônica também adquire capacidade de administrar emoções, assim como controlar impulsos, ter atitude pró-ativa e bloquear condições predisponentes à perpetuação da sensação dolorosa.
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