Muitos pacientes entram dizendo “Doutor, acho que tenho um nervo comprimido”. O que exatamente isso significa? O que é um “nervo comprimido” ou um pinçamento de nervos? Um nervo comprimido causa dor nas costas? Existe realmente esse diagnóstico? Bem, sim e não.
Anatomia
Primeiramente, precisamos entender alguns termos e a anatomia. O sistema nervoso humano é dividido em duas partes. Estes são o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é composto pelo cérebro e pela medula espinhal, que se ramifica nos nervos espinhais. Por fim, o nervos espinhais saem da coluna vertebral e inervam o resto do corpo. Assim que esses nervos saem da coluna vertebral, o SNP começa. Em suma, existem milhares de nervos existem no corpo.
O maior nervo no corpo humano é o nervo ciático, formado na pelve por múltiplos nervos espinhais, depois de terem saído da coluna lombar. Anatomicamente, o nervo ciático percorre todo o membro inferior e pode causar dor nas pernas.
Antigamente, quando as pessoas tinham dor nas pernas relacionadas com os nervos ou dor nas nádegas, presumia-se que isso era causado por compressão ou danos ocorridos no nervo ciático. Por consequência, nasceu o termo “ciática”, baseado nesse conceito. Com o advento da tecnologia moderna e a ressonância magnética em particular, agora sabemos que isso é incorreto. Embora o nervo ciático possa, de fato, causar dor nas pernas, e ser comprimido ou “pinçado” pelo músculo piriforme em uma região chamada incisura isquiática (uma condição chamada síndrome do piriforme), isso é muito raro. Ciática, em mais de 95% dos casos, realmente não tem nada a ver com um problema de nervo ciático ou sua compressão.
Uma causa muito mais comum de dor no braço ou na perna é a compressão de um nervo espinhal. Esta condição é chamada de radiculopatia e é discutida com mais detalhes em outra seção. Na maioria dos casos, o pinçamento de um nervo espinhal lombar provoca dor nas nádegas e pernas, e o pinçamento de um nervo espinhal cervical provoca dor no ombro e no braço.

Como identificar a compressão dos nervos?
Além de obter um histórico dos sintomas do paciente e realizar um exame físico detalhado, outras medidas podem ser tomadas. Estudos de imagem como a radiografia ou tomografia computadorizada fornecem bons detalhes da anatomia óssea do corpo humano mas uma visualização muito fraca de tecidos moles e nervos.
O melhor exame para visualizar os nervos espinhais é a ressonância nuclear magnética (RNM), e esse é considerado o estudo de imagem “padrão-ouro”. A RNM é realizada com ímãs, o que pode interferir com a função de alguns dispositivos médicos, como os marcapassos. Se uma RNM não puder ser realizada, uma tomografia computadorizada é muitas vezes indicada, geralmente em conjunto com uma injeção de contraste no canal espinhal para visualizar os nervos espinhais – mielografia.
Em alguns casos, um estudo eletrodiagnóstico como a eletromiografia (EMG) pode ajudar os médicos a identificar o nervo afetado. Este é um teste neurológico que avalia descargas elétricas através de pequenas agulhas que são inseridas em vários músculos. Podem fornecer informações sobre a função real de vários nervos nos braços ou pernas onde os sintomas estão localizados. Este teste também pode identificar se outros nervos, que não os nervos espinhais, são responsáveis pelos sintomas experimentados.
Causas dos pinçamentos na coluna
Os nervos espinhais podem sofrer compressão repentinamente ou gradualmente. A compressão repentina geralmente ocorre devido a hérnia de disco, também discutido em mais detalhes em outra seção. A compressão mais gradual geralmente ocorre ao longo do tempo devido a mudanças ósseas. Essas alterações ocorrem por causa do processo de envelhecimento e de crescimento ósseo excessivo.
O estreitamento na coluna vertebral nas áreas onde os nervos passam se chama estenose. Quando a parte central do canal da coluna vertebral é estreitada, chama-se de estenose central. Sob o mesmo ponto de vista, quando a parte lateral da coluna vertebral é estreitada, onde os nervos espinhais emergem da coluna (forames de conjugação), isso se denomina estenose foraminal ou estenose lateral.
O desenvolvimento progressivo de dor crônica e declínio funcional provenientes da compressão dos nervos espinhais devido a estenose óssea geralmente é considerado como de tratamento cirúrgico. O pinçamento dos nervos espinhais por uma hérnia discal aguda pode ser tratada de forma não cirúrgica, evitando atividades que causam dor, realizando fisioterapia apropriada, tomando medicamentos orais e realizando bloqueios seletivos de raízes nervosas ou infiltrações de esteróides epidurais na área de irritação e inflamação, guiados por fluoroscopia.
Todo pinçamento causa sintomas?
Uma vez que o corpo humano geralmente adapta-se às mudanças que ocorrem durante o processo de envelhecimento, muitas vezes os nervos espinhais comprimidos são identificados incidentalmente, sem que estejam causando qualquer sintoma. É natural que essa compressão se desenvolva gradualmente durante o processo de envelhecimento. É importante perceber que, a menos que um nervo comprimido esteja causando sintomas como dor intensa, fraqueza ou amortecimento levando a mudanças funcionais de longa data, nenhum tratamento é necessário. Embora os médicos possam chegar a conclusões aparentemente significativas em um cenário, tratamos pacientes e não exames de imagem. É extremamente raro que um paciente sem sintomas exija qualquer tipo de intervenção, como a cirurgia da coluna vertebral.
Caso você tem sintomas que sugestivos de compressão de um nervo espinhal, entre em contato com um especialista em coluna, a fim de realizar uma avaliação integral. Pesquisas mostram que quanto mais prolongados forem os sintomas, mais eles se tornam difíceis de tratar.
Pinçamento de nervos e dor nas costas
Um tópico comumente discutível é se os nervos espinhais lombares podem ou não causar dor nas costas. É aceito que eles podem, mas geralmente apenas lateralmente à linha média. Uma área chamada sulco sacral, muitas vezes é dolorosa se acaso os nervos espinhais forem comprimidos nesta área. Em virtude da compressão e inflamação severas dos nervos espinhais, espera-se que os sintomas irradiem perifericamente no braço ou perna, ao longo do trajeto do respectivo nervo afetado. Isso é chamado de padrão dermatomal.
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